DAN - Teses de doutoramento
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- Hábitos alimentares, hiperhomocisteinémia e doença cardiovascular na diabetes do tipo 2Publication . Valente, Ana Margarida Saraiva; Costa, Helena Soares; Bicho, Manuel Diamantino Pires[PT] INTRODUÇÃO: A diabetes mellitus é uma doença crónica com elevados custos sociais, humanos e económicos. É actualmente considerada um dos maiores problemas de saúde pública e só em Portugal existem mais de um milhão de diabéticos. A diabetes mellitus tipo 2 e a alteração do metabolismo da homocisteína estão ambas associados com a doença cardiovascular. Diversos estudos epidemiológicos indicam que a hiperhomocisteinémia moderada aumenta o stress oxidante, promovendo a formação da placa de ateroma. Este mecanismo pode ser reduzido por uma alimentação rica em micronutrientes antioxidantes. Diversos estudos têm demonstrado que o aumento da ingestão de alimentos ricos em vitaminas A, C, E, e carotenóides reduz a progressão da aterosclerose e previne o aparecimento da doença cardiovascular. A quantificação e avaliação dos níveis plasmáticos de homocisteína em diabéticos tipo 2 não é uma prática comum em Portugal. Os estudos nacionais nesta área, não caracterizam globalmente o risco de aparecimento e/ou progressão de complicações vasculares, por aumento dos níveis plasmáticos de homocisteína e cisteína e alteração dos níveis séricos dos marcadores de stress oxidante e de vitaminas antioxidantes na diabetes tipo 2. OBJECTIVOS: (1) Avaliar o estado nutricional de uma amostra da população Portuguesa e relacionar a obesidade com os níveis plasmáticos ou séricos dos compostos bioquímicos em estudo; (2) Caracterizar os hábitos alimentares da população em estudo e correlacioná-los com os seus níveis plasmáticos da homocisteína e cisteína; (3) Relacionar a presença de angiopatia diabética do tipo 2 com a hiperhomocisteinémia, hipercisteinémia, o stress oxidante e com a diminuição dos níveis plasmáticos ou séricos de compostos antioxidantes (vitaminas A, C e E e carotenóides) e de cofactores do metabolismo da homocisteína (vitaminas B12, B6 e folatos); (4) Avaliar o contributo da variação genética da haptoglobina e da enzima metilenotetrahidrofolato redutase para os níveis plasmáticos da homocisteína e cisteína na angiopatia diabética. MÉTODOS: Foi realizado um estudo do tipo caso-controlo de base populacional em 300 adultos Portugueses de ambos os géneros, com idades entre 40 e os 75 anos. A população em estudo foi dividida em três grupos: grupo I - 75 diabéticos tipo 2 com angiopatia; grupo II - 75 diabéticos tipo 2 sem angiopatia; grupo III - 150 controlos não diabéticos. Os níveis plasmáticos de homocisteína, cisteína, malondialdeído, vitaminas B6, C, A e E, e carotenóides foram determinados por métodos de cromatografia líquida de elevada resolução. O doseamento de vitamina B12 e ácido fólico no soro foi efectuado pelo método de electroquimioluminescência. Foram identificados os polimorfismos da haptoglobina e o C677T da metilenotetrahidrofolato redutase nos dois grupos de diabéticos. Os dados antropométricos foram obtidos por técnicas de referência e a prevalência de obesidade foi avaliada por três metodologias. A composição corporal dos participantes foi avaliada pelo método de bioimpedância tetrapolar. A percentagem de gordura corporal foi também calculada pela aplicação de 9 equações antropométricas. A concordância entre as equações antropométricas e o método da bioimpedância foi avaliada pela análise de Bland-Altman e pelo critério de Lohman. Foi aplicado um questionário padrão para a obtenção de dados gerais, clínicos e de actividade física. Os hábitos alimentares dos participantes dos últimos 12 meses foram avaliados por um questionário de frequência alimentar validado para a população adulta Portuguesa. A análise estatística dos dados foi realizada utilizando os softwares SPSS® , versão 20.0 e MedCalc® , versão 12.3.0. RESULTADOS: De acordo com o critério de avaliação do índice de massa corporal, a prevalência de obesidade foi superior nos dois grupos de diabéticos (grupo I: 57,3% vs. grupo II: 45,4%) quando comparada com o grupo dos não diabéticos (16,8%). Quando a metodologia aplicada foi a avaliação do perímetro abdominal, a prevalência de obesidade foi muito elevada para todos os grupos (>50%) e significativamente superior nos grupos I e II (70,7%) em relação ao grupo III (51,0%). A prevalência de obesidade avaliada pela percentagem de gordura corporal (método de bioimpedância) foi também muito elevada em toda a população (>75%), mas sem diferenças estatísticas entre grupos. A equação de Deurenberg (1998) foi a mais concordante com o método de bioimpedância. Os resultados da composição corporal demonstraram que as percentagens médias de gordura corporal, massa magra e água corporal total foram muito semelhantes entre grupos. A prevalência de desidratação na população estudada foi muito elevada (>55%). A ingestão média diária de energia e de gordura total foi superior no grupo I em relação ao grupo III. A ingestão média diária de hidratos de carbono foi semelhante em todos os grupos e a de proteína foi superior nos diabéticos em relação aos controlos. A ingestão média diária de água foi para todos os grupos inferior aos valores recomendados pela Autoridade Europeia para a Segurança Alimentar. A prevalência de inadequação da ingestão de fibra total foi superior a 50% em todos os grupos. A inadequação de ingestão de ácido eicosapentaenóico, ácido docosahexaenóico e de ácidos gordos ómega-6 e ómega-3 foi muito elevada para toda a população estudada (>70%). A prevalência de ingestão de sódio alimentar total acima do valor recomendado pela Organização Mundial de Saúde foi muito elevada em todos os grupos (>80%). A prevalência de inadequação da ingestão de 8 micronutrientes foi superior a 55% em todos os grupos, sendo que, o grupo dos não diabéticos foi o que apresentou maior prevalência de inadequação para 10 dos 24 micronutrientes avaliados. O padrão de ingestão de vitaminas e minerais nos dois grupos de diabéticos tipo 2 muito semelhante. A presença da diabetes mellitus tipo 2 aumenta o risco de ter hiperhomocisteinémia, níveis elevados de malondialdeído e hipovitaminose C. A angiopatia aumenta a probabilidade de ocorrência de hiperhomocisteinémia e de stress oxidante mas não de hipovitaminose C. A prevalência de baixos níveis plasmáticos de ácido ascórbico e piridoxal-5-fosfato na população avaliada foi relevante (>30%). Foram observadas associações directas da homocisteína, cisteína e malondialdeído com o índice de massa corporal, perímetro abdominal e a gordura corporal. Por sua vez, foi observada uma relação inversa do ácido ascórbico, luteína e β-criptoxantina com os mesmos parâmetros antropométricos. Na relação entre a ingestão alimentar e as concentrações séricas de aminotióis, observou-se uma associação directa da homocisteína e cisteína com a ingestão de metionina e lisina. A distribuição dos polimorfismos da haptoglobina e do C677T da metilenotetrahidrofolato redutase foi semelhante nos dois grupos de diabéticos estudados. A presença do genótipo Hp 2-1 foi associada com a predisposição para a ocorrência de hiperhomocisteinémia e hipercisteinémia nos diabéticos tipo 2 com angiopatia. Os diabéticos do grupo I portadores dos genótipos Hp 2-1 ou Hp 2-2 tiveram um risco cerca de quatro vezes superior hiperhomocisteinémia do que os diabéticos sem angiopatia. A presença dos genótipos C677T e 677TT nos diabéticos do grupo I aumentou em cerca de cinco vezes a probabilidade de ocorrência de hiperhomocisteinémia em relação aos diabéticos do grupo II. O efeito combinado do polimorfismo da haptoglobina com o polimorfismo C677T da metilenotetrahidrofolato redutase aumentou o risco de hipercisteinémia nos diabéticos com angiopatia. CONCLUSÃO: A prevalência de obesidade foi superior a 70% para toda a população quando avaliada pelos critérios da percentagem de gordura corporal ou do perímetro abdominal. A equação de Deurenberg (1998) demonstrou ser a mais adequada para avaliar a percentagem de gordura corporal, em adultos Caucasianos com ou sem diabetes do tipo 2. Os dois grupos de diabéticos apresentaram um padrão de ingestão de nutrientes semelhante e uma prevalência de inadequação da ingestão inferior à do grupo controlo para 10 dos 24 micronutrientes avaliados. A diabetes mellitus tipo 2 é um factor de predisposição para a hiperhomocisteinémia, hipercisteinémia, stress oxidante e hipovitaminose C. A obesidade na diabetes tipo 2 está directamente associada com a homocisteína, cisteína e malondialdeído e inversamente com o ácido ascórbico, luteína e β-criptoxantina. A presença dos genótipos Hp 2-1 ou Hp 2-2 em diabéticos tipo 2 com angiopatia predispõe para a hiperhomocisteinémia e hipercisteinémia. A angiopatia nos diabéticos do tipo 2 portadores dos genótipos CT ou TT do polimorfismo C677T da metilenotetrahidrofolato redutase favorece a hiperhomocisteinémia. A interacção entre os genótipos Hp 2-1 e C677T da metilenotetrahidrofolato redutase potencia a presença de hipercisteinémia.
